François Carrier / Michel Lambert / Rafal Mazur:
“The Joy of Being” (NoBusiness)
Grande parte das informações que nos chegam quanto ao que vão fazendo músicos de jazz e improvisadores do Canadá vêm por via da actividade destes nos EUA ou com músicos norte-americanos. O que é pena, pois há muito mais a acontecer no país que fica mais a Norte da América, e tanto na parte que fala em Inglês como na francesa. Nesse “muito mais” a acontecer por ali há duas figuras que se destacam, as do saxofonista alto (e tocador de suona, o oboé chinês) François Carrier e do baterista Michel Lambert, que habitualmente tocam juntos. Volta e meia, vêm à Europa (nunca estiveram em Portugal, se a memória não me falha) e fazem questão de tocar com europeus num esforço de criar vínculos interatlânticos. No caso deste “The Joy of Being”, e porque o concerto registado aconteceu em Cracóvia, o seu convidado é o guitarrista baixo polaco Rafal Mazur.
A música é inteiramente improvisada, mas segue mais as premissas do jazz do que as da chamada livre-improvisação. A ascendência no disco do legado free do jazz é óbvia, mas não é determinística para a música. Nos dias de hoje, a fidelidade às coordenadas da “new thing” resultam regra geral no mesmo tipo de revivalismo que justifica as conformadas e passivas adopções do bebop, mesmo que se apresente essa paragem no tempo como “mais livre” ou “mais vanguardista”. Não é verdade, como se sabe: o salto que o bebop deu relativamente ao swing foi muito maior do que o dado pelo free em relação ao hard bop. Ora, a música que os dois canadianos e o polaco nos oferecem não é meramente reprodutiva. O free jazz não soava assim na sua época. O que encontramos neste CD vem daí, mas é outra coisa. Felizmente, e com um brilhantismo digno de nota.